“A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela
dignidade humana.”Franz Kafka
Animar o ideal e criar processos...
Quero colocar algumas utopias e
desafios na construção deste ideal chamado FASFI. Claro, dentro dos limites de
visão e de conhecimento de quem escreve. Para isso é preciso lê-lo desde um
desejo grande de cada um(a) e de todos que compõem esse "universo Fasfiano". O
ponto de partida é o objetivo de globalizar a Solidariedade e a Justiça no
mundo, que já é uma grande e pretensiosa aspiração.
Um primeiro desafio que foi
colocado na formação dos primeiros grupos da FASFI era: como contagiar os
leigos e irmãs neste empreendimento. Além do mais, não havia ainda nada
concreto. O objetivo é globalizar a solidariedade pelo mundo; e a
vida-missão de Santa Cândida animou a muitos no início. Deste ponto surgiram na
caminhada algumas luzes e sombras que se precisaria enfrentar e nomear para
continuar a seguir. A tentativa é de trazer para esta reflexão alguns pontos
que foram sendo importantes e provocantes nestes tempos.
O binômio local x global é
muito importante que seja levado em conta e que se tenha clareza de como
integrá-lo em nossa consciência e em nossa ação. Às vezes se pode fazer um
esforço gigantesco, e não fácil, de se projetar uma consciência global. Contudo,
poderá ocorrer alguns perigos. Como por exemplo: que consciência global? Aquela
ocidental e neo-liberal pregada pelo deus mercado que com seu poder sedutor
torna mercadoria até a vida humana? Para mim a representação máxima desta
ideologia está simbolizada no crime do século: o tráfico de pessoas.
O desafio ao olhar o mundo, é
vê-lo desde esse nosso objetivo de globalização da Justiça e da Solidariedade.
Para isso é preciso ter bases sólidas de enfrentamentos apoiadas sempre na
Dignidade da Pessoa Humana, de toda a pessoa humana e no respeito ao planeta.
Esse é o tesouro que penso devemos levar em vasos de barro. Esse horizonte
precisa ser concebido numa forma de consciência vivencial e cotidiana. Dos
grandes aos pequenos e cotidianos gestos de nossa vida. Cada um, cada grupo,
poderá ver maneiras de crescer nesta experiência. Ex.: ao falar da falta d’água
no mundo, eu preciso criar hábitos de consciência disso. Nada fanático! Algo
simples, mas que faça criar comunhão e conectar-se com esta realidade.
Não podemos nos alijar do
local, claro, devemos ter pés no chão, mesmo mirando ao horizonte. Sinto que
precisa haver essa conexão de cada gesto e cada luta local para que esteja
em comunhão com toda ação e presença da FASFI e de todas as ações em favor da vida
no mundo. E ao mesmo tempo tenha a lucidez, uma metodologia inclusiva e
emancipatória que promova a vida e o bem de cada grupo que se coloca em
relação. Dizia sempre nos grupos da FASFI no Brasil: nosso pequeno gesto de
enviar um convite da reunião, precisa estar em comunhão com todas as ações da
FASFI no mundo. E ao mesmo tempo o local precisa ser pensado levando em conta
seus processos, histórias, sujeitos, limites e potencialidades para que de fato
provoque para a organização e cidadania.
Outro ponto que penso ser
nevrálgico é a questão da Justiça e da Cidadania. É preciso ir além da
solidariedade, e traçar caminhos de busca da justiça e da cidadania para
todos. Ambas carecem estar pautadas pelos valores evangélicos que impulsionam
nosso ideal e nossas práticas. Sem justiça a solidariedade poderá não promover, poderá virar uma relação desigual: eu
que posso dar e o outro que recebe. Promover uma cidadania ativa é caminho de
libertação e de consciência coletiva, que abre novos horizontes para a formação
de sujeitos de direitos, capazes de refletir e posicionar-se frente aos
problemas e realidades.
O caminho da Justiça e da
Cidadania não é um caminho fácil e rápido de se trilhar. É exigente e lento. Às
vezes em determinados grupos não se poderá afrontá-las, sem antes ter um caminho
prévio de resgate da dignidade humana e de uma mística encarnada que crie no
sujeito valores e bases que possam sustentar a longa caminhada.
Tem me questionado muito, desde
o Brasil e principalmente agora em Moçambique, a “indústria” dos Projetos
(vide filme "Quanto custa ou é a quilo?" ). Fico muito preocupada com isto.
A miséria não pode virar também objeto. É preciso ter clareza de nossos
valores, da nossa identidade, dos nossos objetivos e principalmente o que nosso
projeto vai trazer de fato em promoção para a vida dos sujeitos que serão
beneficiados. Penso que um ponto importante que temos em nossos critérios é a
questão da reciprocidade e de também do “levar em conta os sujeitos”: o valor
social e vivencial que o mundo dos pobres nos oferta não há dinheiro que pague.
E não é objeto, é conhecimento, é mística e instrumento de transformação de
nossas vidas e de nosso mundo. Esse deve ser nosso Projeto. O financeiro não se pode antepor a isso. Porque seria
corrupção.
No cenário mundial os direitos
humanos é um projeto proposto a todas as nações e seguimentos que se dizem
democráticos. Entendo que os Direitos Humanos, respeitados a história e os
processos de cada nação, superada uma visão apenas liberal e civilista dos
mesmos, poderá ser para nossa missão um instrumento e bandeira a ser defendida
e promovida.
Outra discussão que temos
feito, nestes tempos, diz respeito à nossa ação voluntária juntos às
pessoas em situação de vulnerabilidade social. Nossos documentos já sinalizam
para isso, mas no cotidiano ficamos preocupadas em ter um diferencial nesta
ação, algo que sinalize e ao mesmo tempo nos comprometa com essas pessoas e
realidades. Aquela reciprocidade que transforma não só as suas vidas, mas
também a nossa e o horizonte de nossos projetos e ações.
O maior valor da FASFI não está
no capital que não temos, não está somente em sua boa organização e nem num batalhão
de voluntários ou projetos. O valor da FASFI está naqueles e aquelas que ela
deseja servir e promover. Está no nosso desejo de ser luz e sal no mundo de
todos os seus agentes, voluntários e colaboradores. Temos um caminho que já
começamos a trilhar e que nos provoca a dar passos mais ousados de práxis, de
comunhão e fraternidade universal.
A promoção da Justiça,
Solidariedade, Cidadania e Direitos Humanos é o outro nome da profecia hoje em
nosso mundo. Precisamos descobrir sinais, ações e posturas cada vez mais
comprometidas com a promoção do Reino que é de Deus. Seja no anúncio, na
denúncia e na proposição de um mundo mais humano e fraterno para todos.
Esse textinho no qual tentei
expor algumas provocações não é tese, receita ou está de alguma forma fechado.
É simplesmente uma motivação para a reflexão e o diálogo. Um bom encontro e
trabalho a todas.
Termino com as palavras do
profeta de nosso tempo, D. Pedro Casaldáliga:
“No anhelamos comer la fruta
vana.
Hijos de barro y libertad,
nosotros,
en la común desolación humana,
no queremos ser dioses, sino
otros.
Queremos ser y hacer hijos y
hermanos
sobre la tierra madre
compartida,
sin lucros y sin deudas en las
manos,
sueltos los ríos claros de la
vida.
Libres de querubines y de
espadas,
queremos conjugar nuestras
miradas,
todos iguales en el nuevo edén.
Y en los silencios de la tarde
honda
sentir Tu paso amigo por la
fronda
y el aire de Tu boca en nuestra
sien”.
Em comunhão e em fraternidade, Joseilda
A. A. Borges, FI , 01 de março de 2013
(Texto originariamente apresentado como reflexão por ocasião do Encontro Internacional da
FASFI em República Dominicana no ano de 2013).
Realmente, esse texto nos põe a refletir profundamente.O que fazemos é suficiente diante das carências sociais, emocionais educacionais ,físicas e ambientais dos povos e nações????
ResponderExcluirSenti muito a partida da Ir. Joseilda, que me passou um pouco de sua vivência e experiência do seu trabalho na Fasfi. Aproveitando esse email gostaria de saber quando haverá nova reunião no qual quero participar.
M.Bernadete Albernaz 31 999578222.
Entraremos em contato com vc!
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