Na missa hoje
me veio muito presente que a experiência da universalidade se dá a partir da
comunhão com o Senhor. É n’Ele que somos irmãos com todos, é n’Ele que somos
com toda a criação. Só n’Ele a universalidade se torna um movimento de comunhão
e não apenas um espaço geográfico ou cultural.
É nesta
comunhão que encontramos o amor, a fraternidade que podem de fato nos inserir
em uma realidade respeitando as diferenças, acolhendo o outro em sua dignidade
e nos dá a abertura para deixar o outro ser outro, acolhendo o dom e dialogando
com os conflitos naturais e superficiais do encontro.
Penso que a
universalidade também é dom e esforço contínuo por ser o que somos sem precisar
que o outro deixe de ser quem é. Não seremos o outro e nem o outro deve ser
como nós. É uma relação de entendimento sem abolir as liberdades para que nasça
aos poucos um caminho de encontro e de convívio das diferenças, dos dons e dos
limites de cada parte. Caminho muito difícil a percorrer.
Entendo que as
teorias, os estudos culturais, sociais e etc. são ferramentas importantes nesta
busca do conhecimento entre culturas. Contudo, para mim elas necessitam de um sentido maior que nos possibilite ir
além do estabelecido, do posto, da lógica, do “civilizado”, do já pensado, dos
rótulos e tabus, do meu... Para avançar no apreender, compreender, no
experimentar, no ser... Para além de nós mesmos e de nossos conceitos
mesquinhos e superficiais. Para não corremos o risco de colonizar o outro, como
diz Saramago: “Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer
é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro”.
Pode se
pensar várias coisas que poderiam minimizar esses riscos: ética, moral,
ciência... Ainda assim para mim, falta algo que nasce de um pequeno princípio
que deve ser levado até as últimas conseqüências e sem exceções para todos os
seres: a dignidade. E que desemboca n’Aquele que me possibilita sair para além
de mim mesma e que ultrapassa todo o conhecido e experimentado: o Criador.
Esse Criador
que poderia estar aparentemente longe e inatingível, nos é revelado no Homem
Jesus. É nesta experiência de encarnação do transcendente no iminente numa ação
fecunda do Espírito que se abre a possibilidade, enquanto experiência mística
de fé, de uma comunhão com todo o criado. Que mistério eloqüente e fascinante!
É realmente dom.
Percebo que a
aproximação deste Mistério no concreto da vida e enquanto experiência vivida na
carne e no cotidiano poderá trazer luzes às sombras que assombram as relações
de diálogo e de encontro de culturas, de seres em dignidade. Esta comunhão com
Aquele que é Universal poderá nos recolocar de uma maneira mais coerente e mais
humanizada com o outro porque estaremos no mesmo círculo de dignidade e de
sermos todos criados no mesmo amor.
Podemos até
pensar isso é inatingível. Realmente nossas fragilidade e incoerência são
assustadoras. Mas, quando vejo alguns sinais, de novo acredito ser possível.
Sinais estes que podem se manifestar de maneira sutil e ao mesmo tempo marcante
quando trato o outro com respeito mesmo não concordando com sua maneira de
pensar; quando calo diante de sua maneira grosseira de dizer as coisas; quando
não me torno seu inimigo, mesmo abominando seus atos... Quando as relações se
dão em nível de seres em dignidade, não havendo senhores e nem servos. Quando
as diferenças culturais não são justificativas para oprimir ou dominar. Ao
contrário são relações dialogantes de fraternidade e de humanidade. Gigantesco
aprendizado!
Que a Santa
Trindade venha em socorro de nossas fraquezas, de nossas debilidades e de
nossas incoerências e pecados. Que Ela mesma nos dê a graça da comunhão com as
criaturas no Criador. Graça a ser pedida insistentemente e com muita fé a todo
o momento e até o último momento.
Joseilda Borges
Moçambique, novembro de 2012
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