Indo para uma Praça que tem o
nome de Liberdade, fui surpreendida por uma pessoa que me pareceu estar em
situação de Rua. Ele caminhou ao meu lado falando com muita força e dando
de mãos. A princípio não entendi bem. Mas, na parada do sinal ele se aproximou
mais e me dizia: “eu agradeço, quando me dão eu agradeço... Quero agradecer
aquela mulher que me deixa comer os restos do coco que vão para o lixo, porque
é direito
do lixo. Então, eu posso comer!” E dizendo isso se precipitou entre os
carros com o sinal ainda fechado, falando muito e gesticulando. Eu apenas pude
dizer-lhe: “cuidado!”
Ressoava como badaladas a
expressão “direito do lixo”.
Foi o que sobrou para este ser
humano. Quando faltam os Direitos Humanos, sobra o “direito do lixo” e esse ninguém vai lhe querer tirar.
Estamos diante da desumanidade.
A face cruel e invisível da nossa
sociedade que criminaliza os direitos humanos e faz a defesa de seus próprios
interesses. Alguns gritam, parece que para impor uma situação discrepante, que
Direitos Humanos é coisa de bandido. Ignorância ou má fé? Porque a saúde, a educação, o lazer, e, inclusive a propriedade, são direitos humanos.
E assim, querem jogar os Direitos Humanos no lixo. Direitos Humanos passa a ser
o direito negado ao outro, desde que não seja o meu.
Será que existem pessoas que
podemos classificar como não sendo humanos? É a face mais abjeta da pobreza,
quando atinge o ser humano na sua dignidade. Isso sim, é desumanidade. Tiram-lhe
tudo! E ainda assim, os seres humanos corretos e cheios de oportunidades e
dinheiro, exigem deste deserdado uma mudança de vida, que não pode vir se não
houver acesso a direitos.
Não estou afirmando que a falta
de acesso a direitos seja justificativa de qualquer coisa. Afirmo que os
Direitos Humanos é a via que pode possibilitar uma sociedade mais justa e
equitativa. A começar pelo cuidado à dignidade da Pessoa Humana que é a
essência de todos nós. Especialmente das pessoas que por conta da história de
desigualdades, da exploração e da falta de acesso a direitos vivem em situações
de extrema vulnerabilidade social e humana.
Nestas nossas reflexões sobre a
Pobreza, a luta por direitos é a possibilidade plausível e fundamental para uma
sociedade mais inclusiva, justa e solidária.
Existe uma dimensão cotidiana de
construção da dignidade e da cidadania que cabe a todos nós.
Mas existe também uma
(des)construção cotidiana que a cada dia opera com mais intensidade no
Congresso Brasileiro que, na contramão da garantia de direitos vem defendendo e
impondo uma agenda de retrocessos como a questão da terceirização e a redução da maioridade penal.
Direito do lixo, direito no lixo, direito que se não chega ameaça
vidas.
Que a palavra desta pessoa que
cruzou meu(nosso) caminho sirvam de provocação e inspiração para que cada um de
nós se volte para construção de uma sociedade mais digna, onde os direitos não
sejam resgatados da nossa “lixeira social contemporânea”.
Tenho a ver com isso! Temos a
ver com isso!
A FASFI Brasil, neste contexto,
convida a todos para seguirmos alerta e vigilante na defesa da dignidade da
vida humana, onde ela estiver mais ameaçada. Contribuindo com ações e reflexões,
vamos fazendo parte desta rede de sentidos e convicções em favor dos Direitos
Humanos.
Joseilda
Borges, FI
30 de junho de 2015
Belo Horizonte-MG
Nenhum comentário:
Postar um comentário