Quem somos

A FASFI – Fundação de Ajuda Solidária Filhas de Jesus é uma organização civil, não governamental, sem fins lucrativos, fundada em 2003, na Espanha. No Brasil, apresenta-se como uma filial e conta com a participação de leigos voluntários e colaboradores, independentemente da crença religiosa. Essa fundação faz parceria com as irmãs Filhas de Jesus e busca globalizar a solidariedade.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

O amor para além das fronteiras da exclusão

     Estamos no ano da misericórdia e iniciamos nossa reflexão alimentados pelas palavras do Papa Francisco em sua Encíclica da Misericórdia: ”fazer a experiência de abrir o coração àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais, que muitas vezes o mundo contemporâneo cria de forma dramática. Quantas situações de precariedade e sofrimento presentes no mundo actual! Quantas feridas gravadas na carne de muitos que já não têm voz, porque o seu grito foi esmorecendo e se apagou por causa da indiferença dos povos ricos… Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida…” 
      E foi assim que a FASFI, juntamente com as irmãs do Bom Pastor, em busca do sentido de tão belas palavras, realizou uma atividade dirigida às mulheres que trabalham e residem no bairro Jardim Itatinga, conhecido como reduto de mulheres prostituídas na cidade de Campinas/SP. No dia dezesseis de março, durante a visita ao bairro e no contato com essas mulheres, foi possível compreender que temos de olhar o outro além do corpo, para encontrar, olhando nos olhos, a pessoa . Num sorriso, num abraço, num aperto de mão, no creme ou sabonete cheirosos estavam as mãos de outras mulheres. Irmãs do Bom Pastor e colaboradoras da FASFI se doaram, e receberam a certeza de que não se pode abandonar pessoa alguma, esteja ela onde estiver. 
     A misericórdia, sentimento de dor e solidariedade com relação a alguém que sofre, está além da profissão escolhida, do local onde as pessoas residem e o que oferecem aos outros, ainda que seja sobrevivendo da maneira que encontraram. Vivemos numa sociedade com dúplices contextos, ao mesmo tempo em que se julga, omite e exclui, também se explora e utiliza os mais diversos serviços, incluindo o de mulheres prostituídas. Essa duplicidade esconde a hipocrisia, o egoísmo, a exploração e a busca desenfreada dos prazeres sem sentido, momentâneos que levam à solidão e ao vazio presentes no mundo atual. Uma sociedade em que o ser humano perdeu a direção, está sem aspirações, vive sem rumo, sem meta, sem interioridade, onde a vida é um filme feliz colocado à disposição nas redes sociais. 
     O Jardim Itatinga em Campinas surgiu antes da década de 1960, numa área que pertencia a uma fazenda de café chamada Pedra Branca, de onde originou-se o nome do bairro: na língua tupi, ita significa "pedra" e tinga, "branca". Entretanto, nessa década a região tornou-se uma zona de prostituição confinada, quando recebeu os estabelecimentos e as pessoas envolvidas nessa atividade, expulsos da Região Central e do bairro Taquaral, ainda pouco habitado e que concentrava parte da atividade de prostituição, desde a década anterior. Resume-se no encontro de pessoas que viram ali uma oportunidade de trabalho, como também de exploração de outros indivíduos. Dessa forma, para quem procura tais serviços, seja à luz do dia ou no escuro da noite, lá estão, mães de família, filhas, esposas que se utilizam dessa profissão para manutenção da própria vida e de seus entes queridos. Realizar um trabalho missionário em um ambiente assim é delicado por envolver pessoas sofridas, esquecidas e exploradas. Esse “fazer” independe de religião ou crença está baseado no amor além das fronteiras do egoísmo. Do amor misericordioso que oferece o que é possível, um olhar nos olhos, buscar nas unidades básicas de saúde condições para manter a dignidade no atendimento a essas mulheres e a segurança com relação à saúde.
    O tempo é curto diante de tamanha necessidade de amor... Mas com o coração cheio de esperança, tendo-o como centro do nosso viver como pessoa que busca a transcendência do ser, nos abrindo à verdade, ao amor, a alegria do abraçar sem preconceito, do olhar sem julgamento, do sentir se colocando no lugar do outro, sorrir com alegria à pessoa que vive neste submundo frio, avassalador, nesse mundo de indiferença que humilha e destrói a esperança, somos transformados. Retirados da nossa linha de conforto e despidos como são aquelas mulheres, louvamos a Deus por essas vidas todos os dias. Por poder saber que há um coração em cada corpo, não o de carne, mas o de sentimentos que dão sentido a vida. E que a vida seja valorizada, e que as mulheres que lá visitaram em missão orem pelas que ficaram em exposição. Que o amor seja a cura para tudo, sem desespero, sem alarde, com a elegância espiritual daquele que crê que todos são iguais. Busquemos na oração e na doação do amor o primeiro passo para encontrar toda essa história. Sem cobrança de mudança de profissão, lugar ou situação, apenas amando como deve ser amado porque o amor está para todos. Amemo-nos. 



Um comentário:

  1. Agradeço a FASFI a oportunidade de praticar nesse dia obras de misericordia.

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